Francamente, achei tão insano... Mas interessante esta história e "terapia", que considerei digno relatar aqui.
"A jornalista americana Mac McClelland, que escreve para o site de notícias Mother Jones, já esteve em várias zonas de conflito e presenciou histórias terríveis. Fez reportagens sobre o Congo e até escreveu um livro sobre Mianmar. Mas, depois de voltar do Haiti, sentiu que estava traumatizada. E decidiu contar seu trauma em um artigo para a revista Good.
Em setembro de 2010, durante a cobertura sobre o terremoto que assolou o país, Mac acompanhou o triste caso de Sybille (nome fictício), uma mulher haitiana estuprada e mutilada por uma gangue. Seus ferimentos eram tão graves que ela teve que passar por cirurgia. Na saída do hospital, Sybille reconheceu um de seus cinco agressores e gritou, horrorizada, para a repórter.
O rosto aterrorizado da mulher não saiu mais da cabeça de Mac, que passou a ter sintomas típicos de quem sofre de transtorno de estresse pós-traumático. Tinha flashbacks e pensamentos recorrentes que a levavam a crises de choro, alguns cheiros a faziam vomitar. Ela não conseguia levantar da cama e tinha pesadelos sobre estupro.
A jornalista até tentou usar as técnicas tradicionais para lidar com o estresse. Imaginava-se, diante da tristeza e do horror, inspirando desgraça e expirando compaixão. Mas não conseguia se esquecer das lágrimas que caíam pelo rosto de Sybille.
Nos dias seguintes em que ficou no Haiti, foi assediada por uma autoridade haitiana e pelo próprio motorista. Seus pesadelos sobre estupro aconteciam até durante o dia e a repórter começou a beber para aguentar o estresse emocional.
Em seu artigo para a Good, Mac afirma que raramente os jornalistas falam sobre seus próprios dramas, como lidam com a histórias tristes que testemunham. A última a falar foi Lara Logan, correspondente da rede de TV americana CBS, que relatou a violência sexual que sofreu quando fazia uma reportagem sobre as manifestações contra Hosni Mubarak, então presidente do Egito. Depois de falar sobre seu drama, Lara teve que suportar comentários que davam a entender que ela, a vítima, era a culpada pelo que havia acontecido. Um deles é o de que uma mulher jovem e bonita não deveria estar lá cobrindo um conflito.
Com medo de serem considerados “fracos” para o trabalho, muitos correspondentes de guerra evitam falar sobre os próprios traumas e fraquezas. Mac, porém, decidiu fazer diferente. No artigo para a Good não só falou de seu trauma como da forma incomum que encontrou para lidar com ele.
Durante o tratamento com a terapeuta Meredith Broome, Mac decidiu que ser estuprada a ajudaria a se livrar do trauma. A terapeuta disse que, para algumas pessoas, caminhar ao encontro do medo, da situação de risco, trazia mais calma do que tentar viver a vida como se nada tivesse acontecido.
Foi então que Mac combinou seu próprio estupro com um ex-namorado, Isaac. Era uma situação de violência controlada, diferente da sofrida por Sybille, no Haiti. O relato é chocante e seu resultado, surpreendente.
“Ele estava sobre mim, forçando meus braços para o lado, colocando-os sobre a minha cabeça, enfiando a mão por baixo da minha saia quando eu não podia impedi-lo. A perda do controle fez meu peito gritar de ansiedade; e chorei desesperadamente para conseguir me libertar. Mas não importava quantas vezes eu tentasse empurrá-lo para o outro lado da cama. Ele tem quase 30 kg a mais do que eu, além da paciência e da coragem. Quando consegui sair debaixo dele e comecei a fugir, ele simplesmente me pegou por uma perna e um braço e me arrastou de volta. Quando ele apoiou seu braço no meu pescoço, fui obrigada a usar as duas mãos para conseguir respirar, e isso exauriu minhas forças.
E assim, do nada, eu estava perdida. Era isso que eu esperava, claro. Mas meu corpo – meu corpo lutador, cheio de adrenalina – reagiu explodindo em um pânico terrível. O cobertor reconfortante mas debilitante da tensão que envolvia meu peito nas últimas semanas se solidificou como um tijolo. Então, o peso do corpo dele, e a minha derrota inevitável, caíram sobre o meu tórax. Meus músculos cansados ficaram tão tensos que começaram a doer. Eu parei de respirar.
Não tive a mesma experiência que uma vítima normal teria. Mas quando se tornou claro que eu poderia sobreviver àquilo, comecei a respirar mais fundo. E minha mente ficou lá, presente mesmo quando se tornou doloroso, mesmo quando ele de repente me sufocou com um travesseiro, não para me asfixiar, mas para não quebrar meu maxilar quando afastou o braço e deu o primeiro soco no meu rosto. Duas, três, quatro vezes. Meu corpo se sentiu devastado, mas aliviado; eu havia perdido, mas havia sobrevivido. Depois que ele saiu de cima de mim, ele me levantou no colo. Eu me quebrei em mil pedaços contra o seu peito, soluçando tanto como se minhas costelas estivessem soltas.
Em poucos meses, eu me sentiria pronta para voltar ao Haiti. (…) Depois de alguns meses, eu faria reportagens sobre a República Democrática do Congo, onde todas as entrevistas seriam sobre violência sexual ou assassinato, mas eu trabalharia bem.
(…)
Mas, naquele momento, Isaac tirou o cabelo do meu rosto suado, repetindo várias e várias vezes algo que ele provavelmente sabia, mas que eu tive que reaprender. “Você é tão forte”, ele disse. “Você é tão forte. Você é tão forte.”
É difícil saber o que dizer diante do relato de Mac McClelland. Certamente, sua iniciativa não deve ser repetida por pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, ligado ao estupro ou qualquer outra situação. Fiquei me perguntando como esse homem conseguiu fazer o que fez, mesmo que a pedido dela."
(Fonte: http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/07/05/jornalista-americana-simula-o-proprio-estupro-para-se-livrar-de-trauma/)
"A jornalista americana Mac McClelland, que escreve para o site de notícias Mother Jones, já esteve em várias zonas de conflito e presenciou histórias terríveis. Fez reportagens sobre o Congo e até escreveu um livro sobre Mianmar. Mas, depois de voltar do Haiti, sentiu que estava traumatizada. E decidiu contar seu trauma em um artigo para a revista Good.
Em setembro de 2010, durante a cobertura sobre o terremoto que assolou o país, Mac acompanhou o triste caso de Sybille (nome fictício), uma mulher haitiana estuprada e mutilada por uma gangue. Seus ferimentos eram tão graves que ela teve que passar por cirurgia. Na saída do hospital, Sybille reconheceu um de seus cinco agressores e gritou, horrorizada, para a repórter.
O rosto aterrorizado da mulher não saiu mais da cabeça de Mac, que passou a ter sintomas típicos de quem sofre de transtorno de estresse pós-traumático. Tinha flashbacks e pensamentos recorrentes que a levavam a crises de choro, alguns cheiros a faziam vomitar. Ela não conseguia levantar da cama e tinha pesadelos sobre estupro.
A jornalista até tentou usar as técnicas tradicionais para lidar com o estresse. Imaginava-se, diante da tristeza e do horror, inspirando desgraça e expirando compaixão. Mas não conseguia se esquecer das lágrimas que caíam pelo rosto de Sybille.
Nos dias seguintes em que ficou no Haiti, foi assediada por uma autoridade haitiana e pelo próprio motorista. Seus pesadelos sobre estupro aconteciam até durante o dia e a repórter começou a beber para aguentar o estresse emocional.
Em seu artigo para a Good, Mac afirma que raramente os jornalistas falam sobre seus próprios dramas, como lidam com a histórias tristes que testemunham. A última a falar foi Lara Logan, correspondente da rede de TV americana CBS, que relatou a violência sexual que sofreu quando fazia uma reportagem sobre as manifestações contra Hosni Mubarak, então presidente do Egito. Depois de falar sobre seu drama, Lara teve que suportar comentários que davam a entender que ela, a vítima, era a culpada pelo que havia acontecido. Um deles é o de que uma mulher jovem e bonita não deveria estar lá cobrindo um conflito.
Com medo de serem considerados “fracos” para o trabalho, muitos correspondentes de guerra evitam falar sobre os próprios traumas e fraquezas. Mac, porém, decidiu fazer diferente. No artigo para a Good não só falou de seu trauma como da forma incomum que encontrou para lidar com ele.
Durante o tratamento com a terapeuta Meredith Broome, Mac decidiu que ser estuprada a ajudaria a se livrar do trauma. A terapeuta disse que, para algumas pessoas, caminhar ao encontro do medo, da situação de risco, trazia mais calma do que tentar viver a vida como se nada tivesse acontecido.
Foi então que Mac combinou seu próprio estupro com um ex-namorado, Isaac. Era uma situação de violência controlada, diferente da sofrida por Sybille, no Haiti. O relato é chocante e seu resultado, surpreendente.
“Ele estava sobre mim, forçando meus braços para o lado, colocando-os sobre a minha cabeça, enfiando a mão por baixo da minha saia quando eu não podia impedi-lo. A perda do controle fez meu peito gritar de ansiedade; e chorei desesperadamente para conseguir me libertar. Mas não importava quantas vezes eu tentasse empurrá-lo para o outro lado da cama. Ele tem quase 30 kg a mais do que eu, além da paciência e da coragem. Quando consegui sair debaixo dele e comecei a fugir, ele simplesmente me pegou por uma perna e um braço e me arrastou de volta. Quando ele apoiou seu braço no meu pescoço, fui obrigada a usar as duas mãos para conseguir respirar, e isso exauriu minhas forças.
E assim, do nada, eu estava perdida. Era isso que eu esperava, claro. Mas meu corpo – meu corpo lutador, cheio de adrenalina – reagiu explodindo em um pânico terrível. O cobertor reconfortante mas debilitante da tensão que envolvia meu peito nas últimas semanas se solidificou como um tijolo. Então, o peso do corpo dele, e a minha derrota inevitável, caíram sobre o meu tórax. Meus músculos cansados ficaram tão tensos que começaram a doer. Eu parei de respirar.
Não tive a mesma experiência que uma vítima normal teria. Mas quando se tornou claro que eu poderia sobreviver àquilo, comecei a respirar mais fundo. E minha mente ficou lá, presente mesmo quando se tornou doloroso, mesmo quando ele de repente me sufocou com um travesseiro, não para me asfixiar, mas para não quebrar meu maxilar quando afastou o braço e deu o primeiro soco no meu rosto. Duas, três, quatro vezes. Meu corpo se sentiu devastado, mas aliviado; eu havia perdido, mas havia sobrevivido. Depois que ele saiu de cima de mim, ele me levantou no colo. Eu me quebrei em mil pedaços contra o seu peito, soluçando tanto como se minhas costelas estivessem soltas.
Em poucos meses, eu me sentiria pronta para voltar ao Haiti. (…) Depois de alguns meses, eu faria reportagens sobre a República Democrática do Congo, onde todas as entrevistas seriam sobre violência sexual ou assassinato, mas eu trabalharia bem.
(…)
Mas, naquele momento, Isaac tirou o cabelo do meu rosto suado, repetindo várias e várias vezes algo que ele provavelmente sabia, mas que eu tive que reaprender. “Você é tão forte”, ele disse. “Você é tão forte. Você é tão forte.”
É difícil saber o que dizer diante do relato de Mac McClelland. Certamente, sua iniciativa não deve ser repetida por pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, ligado ao estupro ou qualquer outra situação. Fiquei me perguntando como esse homem conseguiu fazer o que fez, mesmo que a pedido dela."
(Fonte: http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/07/05/jornalista-americana-simula-o-proprio-estupro-para-se-livrar-de-trauma/)