Derrida e suas memórias preservadas




" 'Não há nada que me faça gostar mais do que relembrar a minha própria memória', afirmou Jacques Derrida no estudo biográfico feito por ele em 1984. sobre o seu amigo também falecido, o filósofo Paul de Man. Ainda na mesma época, Derrida confessou: 'Eu nunca soube como contar uma história'. Essas duas características estão longe de ser contraditórias para o autor.  Como ele próprio diz sobre si mesmo: 'É exatamente porque mantém a memória que ele perde a narrativa.'
(...)
 Em 1970, a mãe do Derrida morreu de câncer aos 70 anos de idade. No ano seguinte, Derrida retornou a Argélia, pela primeira vez desde a independência do país, dando uma série de palestras na Universidade de Argel. Durante a estada, aproveitou a oportunidade para visitar a vila à beira-mar onde nasceu, seu jardim de infância e muitos outros lugares de sua memória. Sua nostalgia se tornaria ainda mais pungente devido à morte de sua mãe. Referências enigmáticas a esses lugares de seu passado e indicações oblíquas dos seus sentimentos em relação a eles começaram então a aparecer com frequência crescente em sua obra. Mas por que esse esquivamento quando já não tinha nada a esconder? Aparentemente, expressar tais sentimentos de forma direta iria diminuí-los. A vitalidade deles seria limitada somente pela tentativa de abrangê-los em palavras, as quais teriam vivido entre a realidade de suas memórias. Mais uma vez vemos o pharmakon, que tanto cura como envenena, trai e estimula nossa memórias. O pharmakon, ou escritura, é como o coringa, a carta irregular do baralho. Pode não significar coisa alguma. Palavras são diferenças, e não identidade. Deveríamos estar olhando para o quanto as palavras podem significar, não tentando ver o que elas significam. Derrida deseja manter sua memória intactas: a razão para seu intencional esquivamento om relação a sua autobiografia fica clara."

Trecho do livro "Derrida em 90 Minutos"

terça-feira, 15 de novembro de 2011 by Unknown
Categories: | Leave a comment

Leave a Reply